Série — A Sete Palmos

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Cartaz de "A Sete Palmos"

Terminei de ver só agora uma série consagrada de 20 anos atrás: A Sete Palmos (Six Feet Under). Boa candidata para melhor de todos os tempos.

Já tinha ouvido falar devido ao criador Alan Ball, responsável pelo roteiro de um filme que adoro: Beleza Americana (1999) — ele também dirigiu um filme recente ótimo: Tio Frank (2020). Mas, na época, eu tinha um preconceito com séries em geral. Pareciam novelas.

No fundo, é isso mesmo que é A Sete Palmos: um novelão, no bom sentido. Quais são os elementos básicos de uma novela? Foco microscópico em personagens — mergulhando fundo, de um jeito que seria impossível em um filme — e uma trama tão ampla a ponto de pretender ser um retrato geral da vida.

O seriado gira em torno da família de uma funerária. Então é sobre os distúrbios da morte e o encontro daquilo que tem valor, já que é isso o que o perecimento nos força a buscar. A maior qualidade é retratar isso sem cair no pastiche de novelas e dramalhões, conseguindo evocar um fluxo consistente e irresistível de gargalhadas, lágrimas e epifanias.

Não falta humor ácido e crítica afiada dos valores dominantes, além de quebrar barreiras mentais o tempo todo: com sexualidade, distúrbios mentais, drogas, velhice, maternidade, profissão etc. Ao retratar quão humano e normal é aquilo que geralmente não queremos ou não conseguimos ver, a série tem um efeito curativo até.

Há cinco temporadas. Pulei a quarta, que todo mundo reclama (mas li a sinopse). E a conclusão da série costuma ser chamada de "o melhor final de todos os tempos" na TV.

Realmente é impressionante. É como um fim de novela: todos os dramas chegam a uma conclusão, o ciclo se autocompleta. A diferença é que essa série bate de verdade como algo tão vasto como a vida e a morte. Quando termina, há um vislumbre do que seria chegar ao final de uma vida que, em todos seus momentos ordinários, reúne uma saga gloriosa, sem arestas soltas, em um desfecho que transcende dramas individuais, abraçando-os, sem apelar para espiritualidades pré-fabricadas.

Não poderia ser diferente, o fim é como o da vida. Sinto que essa história realmente contribui para penetrar e entender melhor esse grande enigma que é a morte, a perda, o fim. Não é esse o pano de fundo mais essencial da vida, no final?