The Internet Con (2023) é o mais recente livro de não ficção de Cory Doctorow, que também escreve ótima ficção especulativa.
- Red Team Blues, Cory DoctorowRed Team Blues, Cory Doctorow
Saiu esta semana a nova ficção de Cory Doctorow: Red Team Blues. Como sou fã do autor, furei a fila de leitura e devorei numas três sentadas, já que é um livro curto até. Eu leio bastante coisa reflexiva, de… - Trilogia Little BrotherTrilogia Little Brother
Terminei recentemente de ler a trilogia de Cory Doctorow composta por Little Brother, Homeland e Attack Surface. Eu tinha certo desinteresse porque os dois primeiros são classificados como juvenis. Mas depois de me encantar com Walkaway, também de Cory D.,… - Radicalized e This Machine…Radicalized e This Machine…
Dois livros que terminei: → Radicalized, Cory Doctorow São quatro "novelas" (histórias um pouco mais longas que contos) bem no estilo tech político do autor. Cory é um autor realmente impressionante, que consegue tornar qualquer coisa interessante. Uma das histórias…
O livro é sobre uma causa que lhe é cara como ativista de direitos digitais. O golpe do título é o sequestro da internet, ou do setor de TI em geral, pelo cartel big tech.
Não acho exagero chamar de "golpe". Pessoas ficam reféns, são abusadas e as perpetradoras saem lucrando horrores, literalmente. Tão lucrativo quanto um sequestro de fato.
Cory foi quem cunhou um termo já corrente para entender um aspecto central desse golpe: a bostificação (A bostificação da internet (enshittification)A bostificação da internet (enshittification)
Segue abaixo a tradução do texto da palestra de Cory Doctorow sobre a "bostificação" (enshittification) big tech. Esse é um termo que se disseminou rapidamente entre quem acompanha tecnologia, há mais ou menos um ano. Não significa apenas que a…). Essa linguagem sugestiva acabou tendo bastante apelo. Muita gente já sente o fedor que a palavra sugere.
Por exemplo, usar Instagram ou Twitter é uma bosta, mas as pessoas continuam por não haver muita opção. Depois que todo mundo está refém, ninguém sai. Ninguém saindo, quem sair se isola. E quem está dentro é alvo de um tipo de extorsão, e outros golpes.
O livro detalha o contexto, a história e as entranhas da tramoia, incluindo muitas ilustrações recentes das artimanhas de empresas como Apple ou Google, ou a cumplicidade de governos com a dominação de trustes monopolistas que, não se limitando à tecnologia, dominam toda a indústria.
O estilo é o modo carismático com que o autor se consagrou, conseguindo retratar de modo envolvente mesmo as partes mais técnicas e administrativas da tecnologia. (Não esqueço um conto cativante de 2007, sobre um apocalipse da era da informação, cheio de detalhes técnicos e nerdices hacker, cujos protagonistas são administradores de sistema!)
Cory trabalha há muitos anos na Electronic Frontier Foundation, uma ONG crucial da área, e exemplos de como é esse tipo de ativismo são um outro atrativo do livro.
A segunda metade da obra é a apresentação das soluções, que não têm muito como fugir da regulação governamental, sendo a parte "chata mas necessária".
Também é discutido outro tema central, a interoperabilidade (ou compatibilidade) potencialmente inerente a qualquer dispositivo computacional ou plataforma, mas que é bloqueada pelas big techs como uma forma de forçar sua dominação. Garantir a liberdade para utilizarmos nossos aparelhos e softwares é um dos pontos técnicos essenciais para destruir essa prisão.
No terço final, que esclarece dúvidas comuns sobre as medidas imprescindíveis, senti que a discussão começa a ficar superficial, como se houvesse pressa pra concluir, já que é um livro curto até, de 192 páginas. Mas nada que comprometa muito a obra.