Palavrões

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Um trecho que lembrei de um livro ótimo do Sidarta Ribeiro, Sonho Manifesto — Dez exercícios urgentes de otimismo apocalíptico (2022):

O uso que fazemos de palavrões explicita o atraso milenar de concepções ainda tão comuns. Quase todas as nossas “palavras feias” são ligadas ao sexo e, portanto, deveriam ser consideradas lindas: cu, boceta, caralho, porra, veado, filho da puta. Quanto ódio contra as putas! Por que chamamos assim as pessoas mais vis e desprezíveis? Quando alguém da minha família, por qualquer razão, solta um “puta que pariu”, logo bradamos em uníssono: “Viva as Putas! Viva as Mães! Viva as Filhas! Viva os Filhos!”. O sexo e a maternidade são demonizados como se não tivéssemos todos vindo daí, como se os corpos não fossem templos de infinito prazer, e sim masmorras de infinita dor. É tão comum a hipocrisia antigay que demoniza a homoafetividade, mas a pratica em segredo.

(cap. 3 - Curar nossa pior ancestralidade)