‘True Detective’ é a melhor série policial?

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Atriz Kali Reis, em True Detective, temporada 4
Kali Reis, atriz da quarta temporada de “True Detective”.

Não sei se é a melhor, vi poucas. Policial não é muito meu gênero. Mas gostei mais de True Detective (HBO 2014~) do que de The Wire (HBO, 2002~2008), que costuma ser apontada como a campeã da classe.

Seu grande atrativo, pra mim, é que as tramas envolvendo assassinatos são quase como meros suportes para questões humanas maiores, como natureza do mal, falta de sentido na sociedade, identidade, trauma etc.

Agora que terminou a quarta temporada, seguem comentários. Em cada uma, mudam elenco e história. Isso é ótimo porque acaba com a inevitável encheção de linguiça de séries longas.

Primeira temporada

Já comentei quando comecei a ver. No final, aparece uma ligação sensacional com o universo lovecraftiano de Cthulhu, deixando uma porta aberta para o horror cósmico.

O investigador lesado e niilista de Matthew McConaughey solta umas pérolas existencialistas (provavelmente) inéditas nos anais da ficção policial. Por essas e outras, virei fã do roteirista Nic Pizzolatto, que escreveu as três primeiras temporadas e produziu a quarta.

Gostei de todas mas, se fosse escolher, é essa ou a quarta.

Segunda

A maioria do público torceu o nariz. A trama é política e labiríntica, quase impossível de seguir. Muitos personagens. A sociedade californiana retratada é de uma sordidez e desolação sufocantes. Corrupção e vício generalizados não se limitam a corações humanos. A cidade transborda de contaminação industrial. E não há alívio à vista.

Mas gostei exatamente por causa desse realismo. É preciso lembrar que a investigação do crime principal não é o centro. Assim dá para compreender melhor do que se trata.

Terceira

Temas principais são: racismo, ódio social, amizade, família e memória. Há três linhas do tempo, totalizando várias décadas. Na última, o detetive já está com a memória em degeneração avançada, mas ainda não largou o caso insolúvel sobre duas crianças desaparecidas.

Apesar de não desviar da atmosfera perturbadora característica, essa é a história mais “humana” das quatro.

Quarta

Evoca novamente o clima da primeira. Assassinatos estão ligados a alguma seita? As portas se escancaram para o sobrenatural, mas… Será mesmo?

As atrizes Jodie Foster e Kali Reis, nos papéis policiais, dão outro show (como a dupla da primeira temporada).

O cenário é a longa noite de inverno do Alaska quando o sol não nasce por semanas. Uma operação de mineração está envenenando uma pequena comunidade longínqua. Seu povo originário, Iñupiaq, se organiza contra a corporação. Uma ativista é assassinada. Também há uma base científica de um projeto misterioso, cujos pesquisadores morrem de forma horrenda.

Além do horror sobrenatural, há uma insinuação de ficção científica. Os principais temas paralelos são: espiritualidade, trauma familiar, levante feminino e identidade nativa.

O que pesa a favor dessa como sendo a melhor das quatro histórias é o retrato inclusivo contemporâneo da destruição socioambiental versus cultura nativa.