O livro-reportagem A Organização (2020), da jornalista Malu Gaspar, não é o que costumo ler. Minha motivação foi conhecer mais a história das últimas décadas, já que o conluio entre empreiteiras e governantes define boa parte da política brasileira desde a ditadura. Não decepcionou.
Conta a história da Odebrecht desde a origem, mas com foco maior depois dos 2000. A organização virou sinônimo de corrupção até fora do Brasil, forçando a empresa a mudar o nome para Novonor.
Como é uma investigação jornalística rigorosa, a quantidade de detalhes e personagens no início pode prejudicar um pouco o fluxo, já que é um livro grosso, mas na segunda metade deslancha quase como um thriller, em um tipo de Succession brasileira da vida real.
Acaba também retratando como é a cabeça e a realidade paralela privilegiadíssima onde multimilionários desse tipo vivem. Por exemplo, o herdeiro do clã terminou excluído da corporação por disputas internas depois que a casa caiu. Mesmo dispondo de centenas de milhões de reais no banco, ele se considerava o maior desgraçado do mundo, atacando com toda a força até mãe e pai na busca para reaver o poder. Não parava de me perguntar: “Como uma pessoa consegue ficar desse jeito?!”
Os esquemas de propina a políticos de todo o espectro se repetem até a náusea, o que aumentou meu ceticismo com a política ou até sobre as chances de progresso do Brasil, já que autoridades como a operação Lava Jato também foram uma piada. Essa é uma boa armadilha, já que é nesse vácuo de esperança política que figuras e movimentos oportunistas e autoritários surfam, como aconteceu aqui.