Em O Deus das Avencas (2021), Daniel Galera entra de cabeça na ficção científica. Já tinha adorado Barba Ensopada de SangueBarba Ensopada de Sangue
Barba Ensopada de Sangue (2012), de Daniel Galera, foi um dos melhores romances brasileiros que já li. Como toda resenha alerta, não é o que o título e a capa sugerem — talvez alguma história pulp violenta. É basicamente sobre… e gostei especialmente desse agora, não apenas por ser meu gênero predileto, mas também pela maestria literária.
São três novelas distópicas.
A primeira, que dá nome ao livro, na verdade, não é ficção científica, mas o cenário é a distopia contemporânea, em que um casal passa dificuldades aguardando um parto iminente durante a eleição de Bolsonaro. Fiquei dividido: inegavelmente, a história é poderosa e relevante, mas não me pegou tanto – senti-a mais como uma longa crônica.
A segunda, Tóquio, avança mais ou menos uma geração no futuro, em um Brasil devastado pelas alterações climáticas e contaminação de novas doenças. O protagonista precisa lidar com um dispositivo onde a consciência de sua mãe falecida foi copiada. O retrato desse tipo de tecnologia é muito mais crítico e reflexivo do que costuma aparecer nas histórias do tipo — para as quais não tenho muita paciência —, resultando em ficção pós-humana e pós-apocalíptica exemplar. Tem romance também.
A terceira, Bugônia, parece se passar no mesmo Brasil distópico da anterior, algumas décadas mais para frente talvez. O cenário é uma comunidade pós-civilização isolada que, por uma misteriosa conexão com a natureza numa montanha, adquire imunidade contra uma epidemia mortal que mira apenas humanos. Obviamente, é uma questão de tempo para furarem a redoma. É uma belíssima história sobre simbiose, códigos sociais e heroísmo feminino, quase em tom de fábula.
Já espero ansioso que Galera escreva mais ficção especulativa.