Ritos de passagem (Adult Rites, 1988) é o segundo volume da trilogia Xenogênese1, uma das melhores histórias que já li ou vi sobre alienígenas.
Não tem como comentar sem espoliar. Caso planeje ler a trilogia, melhor parar por aqui. Mas o spoiler não estraga tanto se apenas quiser saber mais por que é especial.
A palavra “xenogênese” significa geração de uma descendência diferente da espécie-mãe. É isso o que as Oankali dessa história fazem: mesclam seu DNA com o de humanos para gerar uma espécie com o melhor de ambas. Vivem dessa coleta e permuta há muitas gerações.
Ritos de Passagem é a história de Akin, uma criança da primeira geração híbrida, que voltou à Terra após ela regenerar de um cataclismo militar e ambiental. Apesar de ser parte alienígena, com instintos e capacidades especiais, sua aparência é humana. Por isso e outras circunstâncias, acaba se afeiçoando aos grupos rebeldes que se opõem firmemente à xenogênese.
É uma história também sobre o que nos define como humanos e a beirada do abismo da extinção.
Oankali já virou minha espécie alienígena fictícia favorita. Não apenas devido a características fascinantes como tecnologias exclusivamente biológicas — como suas gigantescas naves vivas —, seu terceiro gênero, o anarquismo e as complexas metamorfoses, dinâmica de parentesco e práticas sexuais. Octavia retrata essa espécie de modo tão convincente e profundo que é impossível evitar o fascínio.
Ela está entre quem melhor escreve ficção especulativa, mais interessante que a maioria absoluta dos autores homens que li. E mesmo com uma obra menos extensa do que Ursula Le Guin ou Margaret Atwood, também figura entre as grandes damas da ficção especulativa. Seus livros se tornaram especialmente relevantes nos últimos anos, em que a distopia já virou realidade.
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Escrevi sobre o primeiro em Fabulosa história de primeiro contatoFabulosa história de primeiro contato
A escritora Octavia Butler está entre as poucas pessoas de quem pretendo ler tudo. Que arrependimento não ter lido antes! — apesar de estar na minha lista há anos. Despertar (Dawn, 1987) foi meu primeiro contato, e também é uma…. ↩