The Big Book of Science Fiction (2016) é grande mesmo: 1.200 páginas com os melhores contos de ficção científica de todos os tempos, na opinião de Ann e Jeff Vandermeer. Jeff é um dos melhores autores da atualidade no gênero especulativo (principalmente “new weird”). Com Ann (esposa), também acumulam muita experiência na preparação de coletâneas como essa.
Para quem gosta do gênero, é um tesouro. Mesmo quem não gosta particularmente pode encontrar contos tão bons que transcendem o gênero.
O casal também editou outra coletânea que aguarda na minha fila: Irmãs da revolução: Antologia de ficção especulativa feminista. A inclusividade também é uma marca de Big Book. Medalhões como Asimov, Clarke ou Dick estão todos lá, mas impressiona a quantidade de autoras, da temática feminista ou diversa, e de gente fora do eixo EUA-Inglaterra.
Inclui por exemplo o excelente brasileiro André Carneiro, com seu conto Darkness (Escuridão, 1965), que antecipou em 30 anos a cegueira generalizada famosa com Saramago.
Jeff também demonstra outra predileção especial que compartilho: ambiente e natureza.
Cada conto é precedido de saborosos artigos sobre quem é a pessoa que escreveu e seus temas prediletos. São tantos contos que, realisticamente, só quem for muito fanática lerá tudo. Eu, por exemplo, pulei a maioria de temática hard sci-fi ou “era de ouro” (felizmente, boa parte das histórias escolhidas dos primórdios são mais visionárias e nada quadradas).
Algumas das melhores que marquei, entre várias outras:
- The Star (1955), Arthur C. Clarke – Pra mim, as melhores histórias desse pai da hard sci-fi são as de temática religiosa, como os romances 2001, O Fim da Infãncia e o conto The Nine Billion Names of God. The Star também é do tipo. Um padre faz uma descoberta aterradora ao viajar até os resquícios de uma supernova.
- The Last Question (1956), Isaac Asimov – O autor considerava esse seu melhor conto. Também desperta o assombro da espiritualidade, mas sem envolver nada sobrenatural. É basicamente sobre a evolução do Cosmos.
- The Voices of Time (1960), J.G. Ballard – História apocalíptica existencial hipnótica e misteriosa. Gostei tanto que já marquei vários livros e coletâneas desse que foi um dos poucos autores especulativos que transcenderam completamente o gênero.
- Vaster Than Empires and More Slow (1971), Ursula K. Le Guin – Mencionei esse conto no final da resenha sobre Floresta é o Nome do MundoFloresta é o Nome do Mundo
Floresta é o Nome do Mundo (The Word for World Is Forest, 1972) é uma das consagradas ficções da imortal Ursula K. Le Guin. Ganhou o prêmio Hugo, talvez o mais importante da literatura de ficção científica. Como o nome…. Sobre a senciência de uma biosfera alienígena. - Swarm (1982), Bruce Sterling1 — Sobre um mega-organismo cósmico de inteligência desafiadora. Tem um bom episódio da série Netflix Love, Death & Robots que adapta essa história, com o mesmo título.
- Sandkings (1979), George R.R. Martin – O autor dos livros em que Game of Thrones é baseada também escreve ótima sci-fi. Essa premiada história foi a melhor que já li sobre invasão.
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De Sterling neste site: Realismo utópico de Bruce SterlingRealismo utópico de Bruce Sterling
Segue a tradução de uma palestra do escritor estadunidense Bruce Sterling sobre utopia. Entre outros, trata bastante do livro seminal de ficção especulativa Utopia (1516) e de seu autor, o inglês Thomas More. Foi aí que essa palavra e conceito…. ↩