Eu vi o brilho da TV

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I Saw The TV Glow (2024) é um desses filmes que não precisa entender muito para gostar. Drama de amadurecimento com elementos de ficção científica e horror, com a grife do estúdio A24 e da ótima Emma Stone entre as produtoras.

Dois adolescentes deslocados — rapaz aparentemente neurodiverso e garota lésbica, com famílias disfuncionais — ficam vidrados em um seriado sobre paranormalidade e monstros que, enigmaticamente, reflete suas vidas.

Apesar do suspense, a atmosfera dominante é uma tocante nostalgia sobre amizade e o refúgio adolescente na ficção, nos anos 90 — atingiu-me em cheio. Outro tema central é a opressão social e familiar com a diversidade — uma ponta emblemática é a de Fred Durst, da banda Limp Bizkit (que estourou fazendo macho-rock na virada do milênio) no papel do pai carrasco.

Vale alertar que é um filme não convencional, lento e com alguns toques fantásticos a la David Lynch, daqueles cujo desfecho não aparenta muita lógica. Acabei pesquisando depois sobre possíveis interpretações e tudo fez sentido, num nível mais cerebral (mais adiante). Mas já havia gostado mesmo sem entender tudo.

Jane Schoenbrun foi quem dirigiu. Também fez outro bom que vi há um tempo. Menor e bem independente, chamado We're All Going to the World's Fair, de 2022 (trailer, RT), com a mesma sensibilidade, flerte com horror e temas. Sobre uma youtuber adolescente que mergulha num boato conspiratório de internet.

I Saw The TV GlowTrailer, RT.

Significado do final

Alerta: SPOILER.

Segundo a própria diretore, que adota pronomes não binários (they/them), o seriado do filme é um símbolo, uma metáfora para a transição de gênero, em direção à verdadeira identidade. Maddy completou a transição. Já Owen (que aparece em flashes vestido como mulher) não teve coragem, e termina se distanciando desse impulso — ao rever o seriado muito tempo depois, parece algo bobo e ingênuo. No entanto, o “brilho da TV” ainda está dentro dele, como mostram as cenas finais.

Link para uma tradução automática de um artigo com essa explicação quase oficial.

Como toda boa obra de arte, aceita várias outras interpretações. A única que a diretore parece rejeitar é o final feliz quadrado e convencional.