Ao assistir Incêndios (2010), fiquei impressionado. Ainda não vi um filme do diretor canadense Dennis Villeneuve que não seja excelente, além de quatro deles estarem entre a melhor ficção científica para as telas que já vi. Segue a lista comentada de sua filmografia.
Duna, parte 1 e 2
Apesar de a ficção científica ser um tema central aqui, não tinha ainda comentado os novos filmes, de 2021 e 2024, baseados no livro clássico Duna (1965), de Frank Herbert — uma grande ausência também, já que o livro é considerado um dos melhores de todos os tempos no gênero, além de ser um ótimo exemplar da psicodelia da sci-fi New Wave dos anos 60.
Não comentei porque não tenho muito a acrescentar, concordo com todos os elogios que esses filmes receberam. A parte 2 até transcende o gênero, tendo sido aclamada por “restaurar a fé no cinema como espetáculo”, já que essa dimensão vem se degradando muito com a plastificação das franquias de super-heróis e outros pastiches caça-níqueis.
O livro também dispensa comentários. Influenciou decisivamente minha vida. Foi a primeira ficção científica que li, ainda adolescente, que tratava de temas espirituais e a psicodelia da alteração da consciência. Os filmes de Villeneuve são bastante fiéis ao romance, apesar de o lado psicodélico ter sido reduzido.
Mesmo a primeira adaptação cinematográfica — bastante criticada — me marcou. Foi dirigida por David Lynch em 1984 (mas os produtores editaram tanto o filme que ele preferiu retirar o nome dos créditos). Era uma criança quando vi e, apesar de não entender quase nada, me deixou boquiaberto com medo e encanto.
Blade Runner 2049
Também ainda não tinha comentado Blade Runner pelo mesmo motivo de Duna. Por toda a minha adolescência e juventude, considerava o primeiro filme, de 1982, como o melhor filme de todos os tempos, que é baseado em uma história de um escritor predileto, Philip K. Dick.
A sequência de Villeneuve, de 2017, foi uma proeza e tanto. Expandiu a obra-prima original, e é magnífica ficção científica quase que por si só. Também adoro esse filme, revi várias vezes.
RT.
A Chegada
A Chegada (Arrival, 2016) é uma ficção científica de primeiro contato absurda de boa. Dobra a mente. É baseada na novela História de Sua Vida (publicada na coletânea de mesmo nome) de um autor que adoro, Ted Chiang, um mestre em instigar com insights filosóficos e existenciais.
Por exemplo, essa história gira em torno da seguinte ideia (alerta de spoiler conceitual leve): a mente molda a percepção da realidade, e a linguagem molda a mente. Então, ela é um tipo de tecnologia. O que aconteceria com a percepção da realidade ao aprender uma linguagem completamente diferente da humana?
RT.
Sicario
Thriller de ação de 2015 sobre uma força-tarefa estadunidense paralegal que persegue um narcotraficante no México. “Sicario” significa assassino de aluguel. Com Villeneuve, essa sinopse trivial se transforma em um dos poucos filmes inesquecíveis do gênero. Denso, pesado e chocante.
RT.
O Homem Duplicado
O Homem Duplicado (Enemy, 2013) é um mistério surrealista sobre um cara que descobre seu duplo, alguém idêntico a ele. O final costuma deixar quem vê se perguntando sobre o significado. É uma alegoria sobre angústias existenciais e psicológicas — o sentido oculto recompensa. Baseado no romance de mesmo nome de José Saramago.
Os Suspeitos
Os Suspeitos (Prisoners, 2013) é como Sicario em um ponto: uma história policial trivial se transforma em uma jornada envolvente e angustiante. Gira em torno da busca por duas crianças sequestradas, com o clima perturbador onipresente que é uma marca do diretor.
Incêndios
Falado em francês e árabe, Incêndios (Incendies, 2010) é sobre uma irmã e irmão que descobrem a violência de uma guerra civil que marcou o nascimento deles, depois que a mãe — imigrante árabe no Canadá — morre. Também chocante e perturbador, em uma aula de cinema.
Outros
Ainda não vi:
- Polytechnique (2009)
- Maelström (2000)
- August 32nd on Earth (1998)