A senciência assume muitas formas

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capa do livro “Semiosis”, com gavinhas alienígenas e fractais

Tem sido mais difícil ler ficção científica, por algum motivo. Ou melhor, não está fácil encontrar livros que gosto do gênero. Nas últimas semanas, abandonei três bem recomendados1. Então Semiosis (2018, 336 pgs.), de Sue Burke, foi um achado.

A história abrange o primeiro século de um pequeno assentamento humano no planeta Pax, mais ou menos no ano 2200, após o colapso completo da civilização e do meio ambiente na Terra. O plano é uma reinicialização da humanidade, com valores que não apontem para o comprometimento do ambiente e autodestruição. Pax possui uma biosfera similar à terrestre — já com vegetação e animais —, mas como ela é um bilhão de anos mais velha, seus integrantes evoluíram de forma surpreendente. A espécie com inteligência e comunicação mais sofisticadas é vegetal, e humanos precisam aprender a lidar com ela, entre outros fatores, como perda de tecnologia, declínio populacional e hostilidade ambiental.

É uma história envolvente e cheia de conflitos que também reflete questões fundamentais sobre ética, sociedade e senciência não humana. Tem pequenas falhas, que podem ser vistas como qualidades até. A profundidade do mergulho científico na criação de mundo é ideal — mais do que isso e seria hard sci-fi demais para mim. Entretanto, pessoas de inclinação científica mais rigorosa talvez se decepcionem com alguns detalhes, já que o foco são as relações humanas e não humanas.

É o primeiro volume de uma duologia que se completa com Interference (2019), já na fila de leitura.


  1. Coincidentemente, um deles foi o premiado Children of Time, de Adrian Tchaikovsky, que assina a recomendação na capa de Semiosis. Técnico (hard sci-fi) demais para mim.