Lobos da eternidade

>

capa do livro “The Wolves of Eternity”, de Karl Ove Knausgard, com poço cheio refletindo o céu e um corvo bebendo água dele

The Wolves of Eternity (2024, 800 pgs.), de Karl Ove Knausgård, é o segundo livro da série Estrela da Manhã, sobre vidas afetadas pelo surgimento inexplicável de uma grande estrela no céu.

Sobre o autor e a série: A nova estrelaA nova estrela
Estrela da Manhã (2021, 656 págs.), do norueguês Karl Ove Knausgard, é o primeiro volume da série conhecida pelo mesmo nome, atualmente com três livros, mas longe de concluir. Capturou-me totalmente, não queria ler ou ver mais nada — geralmente,…
.

O volume um cobre o primeiro e segundo dias do ponto de vista de nove pessoas na Noruega atual. Já Wolves é um tipo de interlúdio focado mais em duas pessoas-chave. O jovem norueguês Syvert volta do serviço militar, na época do desastre nuclear de Chernobyl, e descobre o passado secreto de seu pai falecido, que o conecta à União Soviética. Já na Rússia contemporânea, Alevtina se envolve em uma investigação obstinada sobre a essência da vida biológica, imersa em crises pessoais.

Gradualmente, a narrativa vai se integrando profundamente à série e seus temas enormes como morte, vida, crise humana e natureza. Mas esse livro tem pouco dos elementos fantásticos do primeiro, o que de forma nenhuma o diminui, se concentrando na história interligada dessas duas personagens. O contexto de emergência ambiental e a investigação sobre a biosfera também estão mais presentes.

O estilo realista de Karl me conquistou de um modo que estou lendo um atrás do outro — fazia tempo que isso não acontecia. Ele escreve sem pretensão na primeira pessoa, coisas como: “Fiz isso, depois aquilo. O dia estava assim; fulano, assado.” Além do enigma cósmico do cenário, as pessoas ficam rondando as grandes perguntas, sem contudo soar filosófico demais, em uma dosagem perfeita para histórias simultaneamente profundas e cativantes, mesmo com o número massivo de páginas (entre 500 e 900).

Uma questão que deriva da inquietação com a morte é o tema central de The Wolves of Eternity. Esse título é o mesmo de um artigo da personagem Vasya, ligado às origens do cosmismo russo e ao fabuloso poeta Rainer Maria Rilke, que investiga a hipótese de um “início da eternidade”. Como ela diz: “o futuro já não importa, a eternidade começou.”

Ainda não tem edição brasileira, mas deve ser lançada, já que as séries anteriores do autor foram todas traduzidas.

Estou lendo o terceiro, The Third Realm, igualmente fisgado. Por enquanto, vai até aí, apesar de sequências serem esperadas, mas não é o tipo de série que depende totalmente da continuação nos livros seguintes. Cada um até poderia ser lido isoladamente, conforme o autor idealizou, apesar de haver sim pendências que se resolvem ou desdobram nos próximos volumes.


Sobre o livro 3: O terceiro reinoO terceiro reino
Em The Third Realm (2024), Karl Ove Knausgard continua sua cativante saga caleidoscópica que mistura realismo literário com ficção científica e até horror, na terceira parte da série Estrela da Manhã1. O livro anterior, The Wolves of Eternity (2024), parece…