O terceiro reino

Em The Third Realm (2024), Karl Ove Knausgard continua sua cativante saga caleidoscópica que mistura realismo literário com ficção científica e até horror, na terceira parte da série Estrela da Manhã¹.

O livro anterior, The Wolves of Eternity (2024), parece quase independente, já este é claramente uma sequência. Apesar de o autor ter idealizado os livros como uma série mais solta, em que seria possível ler qualquer um sem ter lido os demais, The Third Realm retoma arcos que ficaram pendentes no primeiro livro, quando uma grande estrela toma conta do céu, ao mesmo tempo que o inexplicável começa a interferir na vida das personagens.

Apesar de o sobrenatural ficar mais explícito, o livro mantém o estilo de penetrar na rotina e mente das diversas personagens, cada uma com histórias paralelas envolventes. É como se houvesse diversos contos embutidos na história principal, todos interligados.

Um dos assuntos principais é a cena de black metal norueguesa, que conecta múltiplas personagens, mesmo não estando diretamente ligadas. Os membros de uma dessas bandas satânicas são encontrados mortos, de forma hedionda e ritualística. Há uma investigação fascinante sobre o que leva jovens a formas extremas de transgressão, incluindo um secreto movimento vanguardista que rompe de forma inédita com os padrões sociais.

O título do livro é sobre um aspecto religioso relacionado, a crença ligada ao misticismo cristão de que haveria três “reinos“ sequenciais na Terra: o de Deus, o de Cristo e um futuro terceiro reino (“third realm”), do espírito. A ideia foi apropriado por nazistas, em seu “terceiro reich”.

Dá para se dizer que, neste livro, a porteira é escancarada, “hell breaks loose”.

O problema agora é ficar esperando os próximos.

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