Não resisti à série Succession. Meu personagem favorito é o hilário Greg. Em uma cena bem rápida, mas que resume o espírito da coisa, Greg encontra um desses playboys bilionários numa festa e diz:
— Prazer em te conhecer! Eu sou um grande fã de seu… hã, hmmm… do seu… do seu dinheiro!
Fico fascinado com o "capitalism porn" dessa série.
Outro momento que sintetiza o nível do horror é quando o super magnata Logan manda os filhos subornarem a mãe com "uns US$ 30 milhões", como se estivessem comprando uma geladeira.
É um personagem pior que o outro. Ninguém se salva. Só pensam "naquilo". E mesmo aqueles que despertam simpatia flutuam num vácuo moral tão asqueroso quanto o dos oligarcas do mundo real.
Outra série mais ou menos nesse estilo foi White Lotus, que também recebeu elogios unânimes de público e crítica. Talvez a crítica social tenha sido sutil demais aí, pois teve até influencer indo pras redes exibir que já ficou naquele hotel, ou visitou aquela mansão… Gostei e desgostei de White Lotus pelo mesmo motivo de Succession.
Essas séries são meio enganadoras porque, ao mesmo tempo que ridicularizam e criticam os ricaços, também celebram e promovem esse estilo de vida. Sempre houve fascínio, inveja e idolatria em relação a pessoas tão poderosas que se assemelham a divindades.
O que significa ser um "fã de bilionário", como os seguidores de Musk? É como diz o singelo Greg: a única qualidade aí é ter dinheiro. Como, em 99,9% dos casos isso é herdado, então é basicamente um culto a dinastias opressoras.
Esse é o maior trunfo do capitalismo — ou do fundamentalismo de mercado (neoliberalismo), sua expressão mais bem-desenvolvida. Ele consegue fazer as pessoas exploradas cultuarem os exploradores, as corporações, big techs etc. Na verdade, não tem nada de novo aí. É como os faraós tratavam seus escravos.
Lembro que nos anos 80 tinha um seriado americano chamado Dallas, que celebrava os oligarcas sem o menor pudor. A diferença agora é que junto com os vinhos de US$ 100 mil e as mansões de 20 milhões, o ridículo vazio desse estilo de vida também é uma atração — bastante cínica, por sinal.
No fundo, os produtores desse tipo de entretenimento sabem muito bem que um pensamento constante, mesmo que subliminar, entre os telespectadores será "é mesmo ridículo ter o poder de gastar milhões de dólares com diária de hotel?". Essa indagação provavelmente terminará em algo como: "Eu não estou nem aí se for visto como um sociopata idiota, porque ahh… se eu tivesse essa fortuna…"
Mas continuo assistindo Succession. Para mim, é tão fascinante quanto ver aqueles filmes de terror sobre pactos demoníacos. Como diz um comentário popular: "Odeio todo mundo em Succession, mas não consigo parar de ver."