As melhores séries que já vi seguem um padrão: começo a ver não esperando muito (afinal é só outro seriado pra TV) e acabo descobrindo um achado precioso. Como Barry (HBO, 2018-2023).
Lembro neste ano que, quando terminou Succession (Por que adoramos bilionários?Por que adoramos bilionários?
Não resisti à série Succession. Meu personagem favorito é o hilário Greg. Em uma cena bem rápida, mas que resume o espírito da coisa, Greg encontra um desses playboys bilionários numa festa e diz: — Prazer em te conhecer! Eu…), umas vozes isoladas comentaram que Barry também concluiu em grande estilo, equivalente ou até superior, já que as duas acabaram juntas. Na época, vi a sinopse — "matador de aluguel tenta levar uma vida normal" — e não me interessei.
Há umas semanas, maratonei as três últimas temporadas (de um total de quatro). Achei a primeira temporada mais fraca. Comédia interessante, mas talvez superficial, e parei aí. Depois de um bom tempo, meio sem ter o que ver, comecei a segunda. Aí a coisa engatou. Há uma nítida transição para situações dramáticas mais profundas, ação mais envolvente e humor intensamente corrosivo ou completamente escrachado — certos momentos evocam até um "realismo fantástico", surreal.
Tem um clima dos primeiros filmes do Tarantino. O desenvolvimento das personagens é exemplar — não vou esquecer de NoHo Hank (abaixo) tão cedo. E tudo casa perfeitamente com a curta duração de cada episódio, meia hora.
Acompanhei Succession mas, se soubesse, teria preferido Barry. No final, uns 70% de Succession é só ostentação da vida de ricaço, para ficar invejando e sonhando. Há crítica social porque seria impossível levar a sério uma história sobre multibilionários que não os ridicularizasse.
Já Barry é o que é, não fica posando com uma profundidade que não tem. É melhor do que a maioria absoluta do que costuma ser produzido sobre assassinos e gangsters, com uma reflexão impressionante sobre culpa e redenção. Fora a ambientação em Hollywood, com os constrangedores bastidores da luta pela fama e sucesso.
Fazia tempo que não ria tanto com algo que consegue ser profundo e emocionante.