Livro — The Terraformers

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Capa para "The Terraformers"

The Terraformers (2023), de Annalee Newitz, é uma ficção solarpunk sobre transformação social, racismo, equilíbrio natural e resistência a corporações.

60 mil anos no futuro, um planeta privado está sendo terraformado para ser loteado como um gigantesco condomínio de paisagens, contrariando expectativas das comunidades locais que se formaram.

Com o nível de tecnologia alcançado, as mais variadas formas de vida inteligentes podem ser criadas, expandindo a definição de "pessoa", por exemplo, para seres com corpos de vaca, neandertal, minhoca, ou drones, veículos etc. Com tal diversidade, os tipos de relacionamento — amorosos (com abundância queer) ou familiares — rompem praticamente todas as fronteiras, criando novas sociedades e ecossistemas.

Mas essa tecnologia também é um vetor para novos tipos de escravização e racismo. O poder das megacorporações se multiplica, com seus executivos trocando de corpos e durando milênios.

Como resistência, diferentes formas de organização sócio-política emergem nas comunidades periféricas, algumas sendo completamente auto-organizadas e descentralizadas, nos moldes anarquistas.

A linha do tempo em The Terraformers abrange mais de mil anos, desde a chegada dos primeiros compradores, até a conclusão, onde o destino do planeta se define.

Quem gosta de "hard scifi" não vai se decepcionar, já que Annalee também é jornalista de ciência e não derrapa nos detalhes técnicos. A autore também trabalha para a crucial ONG de direitos digitais Electronic Frontier Foundation.

Há muitos outros elementos fascinantes nessa história, mas esses foram os que mais chamaram a atenção.

A única coisa que me incomodou nesse livro é seu materialismo reducionista — a materialidade das coisas explicaria todos os fenômenos, inclusive a consciência. É com esse pressuposto que vidas são criadas artificialmente do mesmo modo como se molda um pote de barro. E o processo de terraformação, de criar ecossistemas, segue a mesma lógica. Parece que tudo vira uma linha de montagem.

Não é um problema da história, apenas discordo dessa premissa reducionista: tudo se reduz à materialidade. (Talvez isso possa ser visto como um elemento que reforça o sentimento de distopia industrial, mesmo em meio a rios, montanhas e florestas.)

Já me acostumei com o fato de que 90% das histórias de ficção científica partem do pressuposto de que a natureza da realidade é material, e não mental (→ Tudo é menteTudo é mente
Esse é um dos melhores livros de filosofia que peguei nos últimos anos: The Idea of The World, de Bernardo Kastrup. É uma formulação sistemática e moderna do "idealismo", a ancestral ideia de que a natureza da realidade é mental,…
). Como ficção, dá para abstrair e aproveitar.