Esse é um dos melhores livros de filosofia que peguei nos últimos anos: The Idea of The World, de Bernardo Kastrup.
É uma formulação sistemática e moderna do "idealismo", a ancestral ideia de que a natureza da realidade é mental, e não material.
Apesar de isso soar como uma afirmação de outro mundo, a base dessa filosofia é muito sólida e pé no chão. Afinal, não é impossível perceber algo que não esteja na consciência?
Na verdade, poderia ser dito que o idealismo é mais realista do que imaginar que o mundo é feito de partículas materiais, já que aquilo que chamamos de "matéria" é algo bastante elusivo — isso é um conceito, jamais temos contato com nenhuma matéria, pois o contato é sempre perceptual/mental.
A própria ciência não explica muito bem o que é matéria, como demonstra a física quântica. Já sobre as experiências mentais (que incluem todas as percepções), há menos dúvidas de que elas realmente existem.
O que diferencia a formulação de Bernardo das clássicas é a refutação muito coerente de objeções e a explicação de pontos que permaneciam meio obscuros. Por exemplo:
- Se tudo é consciência, por que o mundo "exterior" aparenta ter uma ordem além de minha mente?
- Como compartilhamos um mesmo mundo?
- Por que não tenho acesso a outras mentes?
O livro responde isso e muito mais. Um dos argumentos centrais de Bernardo é a explicação de como nossas mentes individuais estão separadas da "mente maior", que é toda a existência, usando como analogia o "transtorno dissociativo de identidade" — aquele famoso distúrbio em que a pessoa possui múltiplas personalidades separadas umas das outras.
A afirmação de que tudo é mente ou consciência não se limita à mente individual de cada pessoa ou ser — essa é uma confusão comum sobre o idealismo. Mentes individuais seriam instâncias dissociadas de uma consciência maior, que basicamente é o cosmos, tendo uma natureza mental, e não material. Toda matéria é apenas uma aparência externa.
Como escrevo sobre experiências psicodélicas, há desdobramentos nessa área também. Por exemplo: se o cérebro é a aparência externa material de uma dissociação (ou redução) em relação à consciência universal, então certas "disfunções" cerebrais — como as causadas por substâncias psicodélicas — resultam em "des-dissociação" (ou expansão) da consciência. Ou seja, experiências de abertura como essas são um tipo de reconexão com a consciência maior ou cósmica.
Não é um livro muito fácil de ler, já que é uma coletânea de artigos de publicações acadêmicas, com revisão por pares. Mas, para quem se interessa pelo tema, é realmente imperdível.