God Is An Octopus (2023) é o relato autobiográfico do inglês Ben Goldsmith sobre a perda da filha de 15 anos e de como seu envolvimento com iniciativas de reflorestamento o salvou, como descreve o subtítulo: "Perda, amor e um chamado para a natureza."
Por ser uma história real, que desperta empatia facilmente, sendo bastante significativa diante do atual colapso ecológico, é um livro que transmite como poucos uma rica experiência de vida. Ainda mais porque a linguagem é quase oral, de tão singela.
Após a perda, Goldsmith começa uma busca espiritual para tentar encontrar sentido e, no final, chega onde sempre esteve. Desde criança, ele tratava a união e (a tentativa de) harmonia com a natureza como sendo um tipo de espiritualidade, apesar dessa dinâmica não ser 100% consciente.
O longo processo do luto demonstrou na prática para o autor como esse contexto maior da vida ampara e restaura. É a isso que o título do livro faz referência.
Esse polvo figurativo também aparece em um insight central durante uma imersão com ayahuasca no final, que é praticamente uma viagem-modelo de como esse psicodélico reaviva ligações naturais (pra mim também foi assim).
Apesar de me deliciar com as extensas descrições de ecossistemas e processos de restauração e regeneração, não pude aproveitar tanto, já que são sobre espécies europeias que desconheço até os nomes.
Outro incômodo foi uma atitude minha, quase um preconceito. O autor é um rico investidor da Inglaterra. Os cenários transbordam de privilégios que poucas pessoas podem usufruir. Problema nenhum da parte do autor; quem disse que ricos não podem escrever livros? Em seu favor, ele não apenas é um grande patrocinador de iniciativas ambientais, mas também coloca a mão na massa.
Mas eu sempre ficava com a pulga atrás da orelha: "Será que ele é mesmo tão "gente boa" como faz parecer no livro?" Talvez eu deva confiar mais na recomendação que me levou a ler o livro, de George Monbiot, um autor e ativista ambiental que acompanho e admiro.