Ficção climática exemplar

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capa do livro “The Wall”

The Wall (2019), de John Lanchester, é uma ficção climática poderosa. Sem didatismo, entra direto na distopia, décadas no futuro, de uma “nação-ilha como a Inglaterra” onde todos os jovens — incluindo mulheres — precisam servir militarmente dois anos em um muro que fechou o país, e imigrantes ilegais são semi-escravizados.

Acompanhamos o jovem Joseph Kavanagh desde o dia 1 no serviço até desdobramentos que extrapolam tal cenário.

Para quem não estiver familiarizado com as consequências da atual emergência climática, há certo mistério e suspense. As causas que levaram à situação ou a natureza da ameaça principal são comentadas de modo indireto apenas. Porque o cenário, no ponto de vista do narrador, não precisa ser explicado.

Mesmo assim, conhecer as previsões do que acontecerá em uma ou duas décadas não é requisito para a leitura. O livro funciona simplesmente como uma jornada distópica arrasadora, com reviravoltas notáveis e subgêneros como romance, amadurecimento e aventura de sobrevivência.

Além de ser memoravelmente bem escrito e de criar um mundo totalmente imersivo, outro mérito é mostrar não apenas o lado de cá do muro mas também mergulhar no lado de lá.