Já faz algum tempo que me sinto meio doente ao usar produtos big tech. É nauseante a forma como o ódio e a desinformação são lucrativos nesse modelo de negócios: discussões ofensivas, discursos negacionistas e até supremacistas são coisas que criam muito engajamento online. A promoção algorítmica desse tipo de conteúdo vende mais anúncios, então é isso o que será promovido.
Especialmente aqui no Brasil, big techs têm ajudado muito movimentos extremistas como o bolsonarismo. É um desastre político e social.
Por essas e muitas outras, tento exorcizar a influência big tech em minha vida. Sei que isso não impacta essas corporações, mas é mais uma questão de princípios: não quero contribuir como um parafuso dessa máquina.
Segue uma lista limitada de alguns softwares e serviços que passei a usar. Todas as alternativas são gratuitas (a maioria de código aberto), ou têm bons planos gratuitos.
- Abandonei o Gmail (e todos serviços Google). Em vez disso, uso e-mail auto-hospedado (Caddy, Maddy e GoAccessCaddy, Maddy e GoAccess
Em busca de um servidor de email que não fosse muito difícil de configurar, encontrei o Maddy Mail Server. Funcionou de primeira. Só tive problemas quando troquei o servidor web (Nginx) e apaguei por engano o pacote certbot: o Maddy…). Há menos recursos e facilidade de uso, mas é um preço bastante justo a pagar para poder ter uma comunicação por e-mail livre do Google. Como cliente de email, uso Thunderbird. - O navegador alternativo que mais gosto é o Brave, que já bloqueia por padrão anúncios, rastreadores etc. Também é mais rápido e seguro, mas tem uma função de criptomoeda inútil, que basta desativar. A versão para celular também é boa, e sincroniza com o desktop. (Há odiadores ferozes do Brave por aí, mas nenhum de seus argumentos me convenceu.)
- Uso também o Mullvad (Navegador imune a fingerprintingNavegador imune a fingerprinting
Outro dia vi o site dessa empresa que demonstra o atual estado da tecnologia de "fingerprinting" na web, que rastreia o acesso a sites com base num tipo de impressão digital de cada navegador. O curioso é que independente das…), que até agora é o único navegador 100% privado que testei (com a exceção do TOR). Para garantir privacidade, a funcionalidade acaba sendo comprometida. Por exemplo, não faz sentido usar cookies de login se privacidade for desejada, assim como extensões/plugins (que são um dos melhores identificadores para rastreamento). Então não uso sempre o Mullvad. - No Windows (ocasionalmente uso para testes), vou de LibreWolf, que é um Firefox mais privado, seguro e livre.
- Uso também o Mullvad (Navegador imune a fingerprintingNavegador imune a fingerprinting
- Para pesquisa, a busca do Brave não deixa nenhuma saudade do Google. Costumava usar o DuckDuckGo, principalmente por causa dos bangs (atalhos de busca) — todos os serviços que uso estão lá, como dicionários, sinônimos, wikis, tradução etc. Por exemplo, para pesquisar na Wikipedia, basta digitar na barra de endereços:
!w assunto da pesquisa
. Uma coisa que me incomodava no Duck é que eles usam resultados do Microsoft Bing. Então mudei para o Brave e… Os bangs do Duck funcionam lá também! - Para ver vídeos e assinar canais do Youtube sem uma conta Google ou rastreamento, há o NewPipe para celular, ou o FreeTube para desktop (Vídeos do Youtube sem entregar nada ao GoogleVídeos do Youtube sem entregar nada ao Google
FreeTube. Como eu não usava isso antes? Apesar de ter abandonado a conta Google já há um tempo, eu ainda via alguns vídeos no Youtube, sem me logar. Ao ver o Youtube assim despersonalizado, pelo menos passei a ter consciência…). - No celular, troquei o Android pelo LineageOS (Celular livre de big techsCelular livre de big techs
Como já mencionei, instalei LineageOS, uma versão sem Google do Android, no celular. (Privacidade no celular e o conluio big tech, há aí um detalhe importante para quem for instalar. E vale sublinhar que há uma lista restrita de aparelhos…). - Existem muitas alternativas ao Google Drive. Uso um plano vitalício do pCloud, que é mais barato que um drive externo (há plano gratuito de 10 GB). Também sincroniza fotos e vídeos no celular. Também uso um pouco o Mega, que criptografa tudo por padrão.
- Para sincronizar contatos, calendário e tarefas auto-hospedados com o celular, uso o davx5 em conjunto com o Radicale (Servidor leve para contatos e calendárioServidor leve para contatos e calendário
Desde que deixei de usar o calendário, contatos e tudo mais do Google estava procurando por uma opção simples e aberta para auto-hospedar esses serviços (já que o Nextcloud é meio overkill). É o que faz o Radicale, um servidor…). Essa é a versão hard. Outras opções são as alternativas já citadas (como Proton, Zoho…), que funcionam como Google. - Entre as várias alternativas ao MS Office, a que uso é o LibreOffice.
- Para quem hospeda sites, uma alternativa ao Google Analytics é o GoAccess, que não depende de nenhum cookie ou script de rastreamento (Caddy, Maddy e GoAccessCaddy, Maddy e GoAccess
Em busca de um servidor de email que não fosse muito difícil de configurar, encontrei o Maddy Mail Server. Funcionou de primeira. Só tive problemas quando troquei o servidor web (Nginx) e apaguei por engano o pacote certbot: o Maddy…). Para o navegador, talvez valha a pena usar a extensão Google Analytics Opt-Out, pois mesmo que não use nada do Google, 90% de todos os sites rastreiam quem acessa com o Analytics e, obviamente, esses dados vão para a nave-mãe. Disse "talvez" pois não sei o quanto essa extensão é confiável, já que é o próprio Google quem disponibiliza. No mínimo, a informação de que você instalou e alguns dados pessoais ficam registrados. - Como sistema operacional, uso Linux (Arch).
Redes sociais
Apaguei minhas contas nas grandes redes sociais, e estou bem satisfeito com o Mastodon, na comunidade Bolha.us.
Para mensagens, deixo o Whatsapp só para comunicações práticas ou de emergência, tentando usar mais o Signal. Gosto do element (que usa o protocolo federado Matrix), mas tem muito pouca gente usando. Melhor ainda é o Session, esse sim 100% privado, mas praticamente ninguém usa.
Microsoft e Apple
Como mecanismos de rastreamento e vigilância estão entranhados nas profundezas mais secretas (vedadas) dos sistemas operacionais das big techs, trocar por uma distribuição Linux é o ideal.
Se não for possível, dá para mitigar usando programas que bloqueiam o "phone home para a nave-mãe", definindo servidores de DNS privados (como Control D) que barram o rastreamento na fonte da conexão, e ativando as opções de privacidade do SO (mas que acabam sendo mais como estratégias de marketing).
Quando a vigilância não havia tomado as proporções atuais, cheguei a usar Apple por um tempo (o hardware sempre foi bom), mas hoje não há como. Essa big tech até permite um pouco de privacidade, mas, no final, é praticamente impossível impedir que ela te rastreie de múltiplas maneiras, tanto no celular quanto no desktop. Sem falar que ela é a corporação distópica por excelência, já que consegue fazer seus clientes a cultuarem como membros de um fã-clube (já entre quem usa Windows, não é rara uma consciência resignada de refém, reconhecendo que o troço não presta).
Sobre Windows e ChromeOS (dos Chromebooks), os problemas são tão flagrantes que dispensam comentários.