Tinha mais de um ano que não fazia nenhuma sessão psicodélica. Ontem comi 3g de Psilocybes cubensis. Nas últimas duas vezes, tinha comido 6g em cada — um exagero! Então estava planejando uma sessão mais "leve".
Não sei se foi por causa da variedade "Equador" que pedi, ou alguma condição diferente em meu estômago, mas esses 3g foram iguais aos 6g de antes: o pico foi tão intenso que fui para um "outro lugar" e perdi a consciência de que estava em uma viagem psicodélica. Essa parte sempre é muito assustadora.
Virei meio que um adepto esporádico dos "cogumelos mágicos" há uns dois anos. Um dos motivos foi aquele livro How to Change Your Mind, do Michael Pollan, que virou um best-seller nos EUA, e ajudou a turbinar a atual "renascença psicodélica". O livro virou também uma série ótima (→ How To Change Your MindHow To Change Your Mind
The Netflix series How To Change Your Mind is the best documentary I ever saw on psychedelics (I watched dozens). The book of Michael Pollan was already so moving, and this was extremely well done and thought. Kudos!
).
Os depoimentos mais legais desse livro são de experiências com psilocibina (o princípio ativo do Psilocybes). Desde a adolescência, já li praticamente uma biblioteca psicodélica, mas esse livro se destaca pela dimensão humana nas experiências de transformação, transmitindo algo muito emocionante, sem exageros espiritualistas.
Até então, confesso que tinha certo preconceito com cogumelo. Tinha tido algumas experiências, mas nenhuma muito memorável. Fiquei imaginando que talvez nunca tenha consumido esse fungo da maneira certa, pois nunca tive experiências profundas e transformadoras como as descritas nas experiências de terapia psicodélica que estão sendo feitas, por exemplo, com pacientes terminais ou com distúrbios como PTSD e depressão.
Conheço bem essas viagens mais intensas, mas com outras substâncias: LSD, DMT etc. "Bom, Psilocybes é muito mais fácil de obter. Vamos ver então como é fazer isso direito."
Segui a receita da dose "heroica" do Terence McKenna: para uma experiência transcendental transformadora, não necessariamente "divertida", coma 5g de Psilocybes secos e deite-se só, no escuro. Obviamente que isso é para exploradores experientes; do contrário, fazer isso sem ninguém acompanhando é clamar por desastres. Chamar isso de "heroico" não é exagero, a sensação realmente é como saltar de cabeça em um abismo.
A ideia de ficar sozinho no escuro é reduzir ao máximo os estímulos exteriores, já que os objetos dos sentidos se tornam extremamente encantadores. É bem interessante, mas distrai e bloqueia uma viagem interna mais profunda.
Voltando às experiências, realmente comprovei: Psilocybes secos numa dose alta são tão fortes quanto LSD, sendo mais intenso que ayahuasca. Mas minhas duas sessões anteriores poderiam ter sido mais proveitosas. Isso porque, no pico (que costuma acontecer uma hora depois do consumo), eu perdia a lucidez sobre a natureza de alucinação de toda a experiência, ficando perdido nas imagens internas, dando realidade à tudo que estava sendo vivenciado, como num "estado intermediário" depois da morte (que Timothy Leary chama de "bardo" → A Experiência Psicodélica resumidaA Experiência Psicodélica resumida
Encontrei o texto abaixo revirando diretórios que não toco há mais de dez anos. É um artigo de Timothy Leary (1920 - 1996) que resume os pontos essenciais do clássico A Experiência Psicodélica (a imagem acima é parte da capa…).
Perdia também a própria referência sobre quem ou o que sou, a experiência sendo apenas um fluxo de cenas imersivas: fractais tão belos que despertam terror, a insinuação de uma presença cujo poder é enorme demais para minha mesquinharia suportar, locais casuais de um mundo aparentemente alienígena, como o canto de um quintal, ou um monumento incompreensível. Por vezes também, a sensação de culpa por alguns atos condenáveis era avassaladora. Em certos momentos, diante do desespero de não saber o que está acontecendo, sé me restava balbuciar: "Socorro! Alguém me ajude! Perdão!"
Essa descrição sugere algo bem negativo. Mas, logo depois desse pico, há um sentimento de enriquecimento, de aprendizado e fortuna. Além disso, o senso de estar perdido se alternava com momentos de puro êxtase, como uma volta a um lar que busquei a vida toda. Nesses momentos, ficava balbuciando "Obrigado! Obrigado!", devido à dimensão de perfeição que dominava, além de qualquer experiência comum.
Mas por que eu digo que as experiências poderiam ter sido mais proveitosas? Porque isso tudo eu só lembro em flashes. Em diversas experiências com ayahuasca ou LSD, mesmo com dose alta, eu conseguia manter um fio contínuo de lucidez e consciência, até diante de uma dissolução da personalidade ou ego.
Já com uma dose grande de psilocibina, sinto que há um sobrecarregamento da mente, que impede depois uma lembrança mais unificada.
Por isso, decidi reduzir para 3g dessa vez. No entanto, em termos de intensidade, foi exatamente a mesma coisa. Claro que conteúdos específicos refletiram as mudanças que ocorreram em minha vida nesse intervalo, mas em termos qualitativos, foi algo muito parecido com as outras sessões.
Costumo deixar preparadas longas playlists com músicas instrumentais propícias. Música geralmente é o que faz a diferença para converter um momento difícil em êxtase revelatório. Durante a experiência, acontece o tempo todo: estou ali lutando contra alguma imagem ou mensagem (a receita garantida de tortura numa sessão psicodélica é resistir, não aceitar, lutar contra o que quer que apareça) e, de repente, uma nova música começa, trazendo a ideia da beleza pura pela beleza em si, não é preciso nenhum propósito além dela mesma; e num estalar de dedos, o sofrimento termina e se converte em revelação transcendental, as imagens e mundos alucinantes continuam os mesmos, mas ao mudar a maneira de se relacionar com isso, tudo muda.
Na época em que usávamos CDs para as sessões era mais fácil, bastava deixar tocando e pronto. Agora com celulares eu sempre passo dificuldade: a interface do player e das playlists se transforma em hieroglifos incompreensíveis e, muitas vezes, sei lá por que, o aparelho para de tocar ou simplesmente não funciona.
Lembro de uma sessão em que eu coloquei uma playlist do pg.lost, banda de post-rock que adoro, mas que numa sessão pode soar pesado ou claustrofóbico demais. Aí, no pico, o player travou nessa playlist, eu tentava trocar para uma mais gentil e suave, mas não conseguia. Muitas dessas músicas tem momentos que é heavy metal puro. Imagine só: no pico de uma sessão psicodélica, sendo obrigado a ouvir guitarras extremamente pesadas, batidas agressivas, climões apocalípticos… Curiosamente, eu poderia ter simplesmente desligado, mas por algum motivo não fiz isso…
Felizmente, esse período mais difícil é só o pico, que não costuma durar mais que meia hora (apesar de que meia hora no relógio psicodélico dura uma eternidade). Depois, ainda sobram umas três ou quatro horas de puro deleite, com muitos insights valiosos sobre a vida e tudo mais.
Um insight dos mais preciosos que tive, tanto no pico quanto depois, foi o seguinte: há certa lucidez sobre toda a natureza alucinatória, então tudo vira simplesmente uma experiência estética, no sentido de contemplação da perfeição. Então me pergunto: "Mas o que está por trás disso tudo? De onde vem? O que é o sujeito dessas experiências?" Então algo indizível "aparece sem aparecer" como sendo a natureza de toda a realidade, e isso não é diferente da natureza da minha própria mente, de mim mesmo. Sorrio, e é como se isso estivesse sorrindo para mim de volta, como se o "grande segredo" estivesse sendo escancarado, mas sempre esteve bem aqui na frente.
Essa mesma experiência eu tive algumas vezes com LSD. É algo que passei a carregar comigo, como uma estrela-guia ou norte de minha vida.
Houve períodos em que eu fazia sessões, sozinho ou com outras pessoas, quase toda semana. Não sei como aguentava. Agora, meu ritmo é esse: uma ou no máximo duas vezes por ano.