(ilustração de Armando Veve, para o conto This World is Full of Monsters)
Coincidentemente, passei uns meses meio imerso num universo de fungos e cogumelos. Além do seriado The Last of Us, li a trilogia Ambergris, de Jeff Vandermeer (reunida num tijolão de 900 páginas), e fiz algumas sessões psicodélicas com Psilocybes cubensis (Experiência com 3g de PsilocybesExperiência com 3g de Psilocybes
Tinha mais de um ano que não fazia nenhuma sessão psicodélica. Ontem comi 3g de Psilocybes cubensis. Nas últimas duas vezes, tinha comido 6g em cada — um exagero! Então estava planejando uma sessão mais "leve". Não sei se foi…) nesse intervalo.
Escrevi outro dia sobre o final de Last of Us (Final decepcionante de Last of Us é crucialFinal decepcionante de Last of Us é crucial
ALERTA: CONTÉM SPOILER Também fiquei decepcionado com o final da primeira temporada para The Last of Us. Foi muito curto, abrupto e sem sentido, aparentemente. Como me mantive completamente vidrado nesse seriado, não me conformei e fui dar uma pesquisada.…) e vira e mexe publico algo psicodélico. Então vou falar do livro.
Vandermeer escreve ficção especulativa como ninguém. Suas obras recentes — as trilogias Comando Sul e Borne, o thriller Hummingbird Salamander, e o conto This World Is Full of Monsters (leia aqui) — estão entre as melhores histórias de ficção científica que já li (e olha que sou um nerd do gênero).
O que mais gosto é sua ideia de natureza. Ambergris, Comando Sul (Area X) e This World is Full of Monsters formam uma unidade sobre uma natureza que transcende este planeta, sendo inseparável de uma cosmologia que pode ser vista como algo terrível e aniquilador (o filme Aniquilação, baseado no livro 1 da trilogia Comando Sul, enfatiza isso) ou como uma força transcendental cósmica, que se desvela por completo em This World is… .
Então eu era um fã incondicional. "Era" porque senti o Ambergris meio arrastado. Não instiga tanto como os livros mais recentes. A trilogia foi publicada originalmente entre 2001 e 2009 — talvez seu estilo estivesse sendo cultivado e amadurecido.
Mas a construção de mundo é algo que nunca vi igual. A história abrange vários séculos em uma cidade fictícia meio anárquica, infestada de cogumelos e seres fungais misteriosos, e povoada por figuras extravagantes mas extremamente humanas.
No primeiro volume, de estrutura inovadora e criatividade delirante, eu tinha a sensação de que o autor realmente pariu uma criação genial com o universo de Ambergris. Quase atrapalha a leitura, porque a genialidade do autor vira um personagem da história. Mas seguindo adiante, a coisa começa a se arrastar, apesar de o brilho do conjunto jamais se perder. No final, instiga novamente devido à revelação sobre a identidade da infestação micelial.
A narrativa evoca desde Jorge Luis Borges, passando por H.P. Lovecraft, William Burroughs, histórias de detetive e até As Viagens de Gulliver.
Como fã, não me arrependo da leitura. Valeu pelo conjunto. E sigo ansioso pelo que virá: Hummingbird Salamander pode virar série (a Netflix comprou os direitos), e mais um livro Area X está para sair.