(Pós-)Anarquismo de Murray Bookchin

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Murray Bookchin
Imagem: roarmag.org

Para que diabos estamos tentando fazer uma revolução?

Para recriar a hierarquia, posicionando um sonho obscuro de liberdade futura para a humanidade contemplar? Para promover mais avanços tecnológicos? Para criar uma abundância de bens ainda maior do que a existente hoje? Para "se vingar" da burguesia? (…) Para levar ao poder o Partido Comunista ou o Partido Socialista dos Trabalhadores? Para emancipar abstrações como "o proletariado", "o povo", "a história", "a sociedade"?

Ou será que é para finalmente dissolver a hierarquia, o domínio de classe e a coerção — para possibilitar que cada indivíduo obtenha o controle de sua vida cotidiana? Será que é para tornar cada momento tão maravilhoso quanto poderia ser e o tempo de vida de cada indivíduo uma experiência totalmente gratificante? (…)

Murray Bookchin, 1969

The Murray Bookchin Reader (1999; disponível gratuitamente na Anarchist Library) reúne artigos e passagens selecionadas — escritos entre os anos 60 e 90 — desse pensador e ativista estadunidense, imensamente influente para os movimentos anarquista, ecológico e da "nova esquerda" em geral. A coletânea tenta sumarizar o pensamento de Bookchin.

Uma das marcas que Murray Bookchin (1921~2006) deixou foi a revitalização, nos anos 60, do anarquismo e descentralismo como alternativas sólidas ao capitalismo, livres das armadilhas do socialismo. Na mesma época, também foi um dos pioneiros a pensar a ecologia como um elemento fundamental para as mudanças, antevendo nossa emergência ambiental.

Não foi uma leitura das mais fluídas. Alguns artigos parecem minuciosos e especializados demais e o conjunto, às vezes, sugere uma colcha de retalhos. Nesses momentos, eu desejava ler um livro dele dedicado a um só tema, em vez de uma coletânea de pinceladas sobre tudo. Devia ter começado com The Next Revolution (2015) ou The Ecology of Freedom (1982).

Insisti na leitura por haver tão poucas pessoas como Bookchin, que funde anarquismo com ecologia, oferecendo um modelo de mudança bastante prático, fazendo questão de apontar a arapuca que é a opção padrão quando se pensa em anticapitalismo (após décadas de militância, ele abandonou o socialismo).

Discordo dele em pontos até que centrais. Mas sua riquíssima contribuição é inegável.

Nos anos 90, ele acabou abandonando também o anarquismo. Ou melhor, talvez tenha sido abandonado, já que uma boa parcela de "anarquistas-raiz" rejeita abordagens como assembleias de democracia direta como sendo "políticas demais". Como Bookchin não abria mão de mobilização e engajamento político coletivo, decidiu abandonar o "anarquismo oficial". Nesse ponto, estou 100% com ele.

Um ponto em que discordo é sua condenação apaixonada da ecologia profunda. Ele via esse pensamento como um tipo de "misticismo" em relação à natureza, e insistia que o ser humano é sim superior às outras formas de vida. Obviamente era um materialista convicto.

Concordo que o movimento ecológico se misturar com ideias new age e de auto-ajuda — algo bem comum hoje — dilui a ecologia, até um ponto em que o movimento se torna inócuo. Além de não haver mais confronto com os sistemas destrutivos, isso pode até fortalecê-los, no final.

Mas a negação vigorosa de Bookchin de princípios transcendentes na "natureza maior" me parece um pouco exagerada. Não é preciso nenhum "misticismo" aí, assim como reconhecer a equivalência básica entre humanos e outras formas de vida não exige nada de irracional.

Ele também não poupa críticas ao que chama de "anarquismo como estilo de vida" ("lifestyle anarchism"), em que são enfatizados os aspectos individuais de liberdade e expressão, em vez da (auto-)organização solidária. Essa incômoda característica existe no anarquismo desde os primórdios, fazendo com que o movimento seja, em muitos aspectos, mais irmão do liberalismo do que do comunismo.

Nas últimas décadas, isso tem ganhado força, por exemplo, entre anarco-primitivistas. Agora, há até milionários que se declaram anarco-capitalistas… ("Anarquia para ricos fazerem o que quiserem. Austeridade governamental para os pobres.")

Bookchin usava muita energia para denunciar cooptações como essas que, segundo ele, minam o anarquismo, o movimento ecológico e a esquerda em geral a partir de dentro.

Realmente. Por exemplo, sempre lembro que, em várias ocasiões históricas, quem esmagou o movimento anarquista (com execuções no paredão até) não foi o sistema capitalista mas, sim, os partidões socialistas.

Capa do livro "The Murray Bookchin Reader"

Abaixo segue um artigo esclarecedor desse livro, em que o anarquismo (especificamente, o anarcocomunismo) é definido em oposição ao socialismo (tradução automática cuidadosamente revisada).

Apesar de, nesse artigo, Bookchin propor uma revolução anarquista (afinal, era 1969…), anos depois, passou a enfatizar a proposta de um "municipalismo libertário". Isso não é estritamente anarquista, apesar de descentralista; nem obrigatoriamente "revolucionário", no sentido como essa palavra costuma ser entendida.

O artigo ainda é relevante por apontar diversos erros de revoluções passadas e como corrigi-los.


PS: Só fui ver depois que o livro de onde o artigo abaixo foi extraído já estava traduzido na versão em português da Biblioteca Anarquista. Ali, há vários livros e textos de Bookchin.


As duas tradições: anarquismo

Do livro Escuta, Marxista!, de 1969

(tempo de leitura: 12 min)

Assim como a Revolução Russa incluiu um movimento subterrâneo das "massas" que entraram em conflito com o bolchevismo, existe um movimento subterrâneo na história que entra em conflito com todos os sistemas de autoridade. Esse movimento adentrou nosso tempo sob o nome de "anarquismo", embora nunca tenha sido englobado por uma única ideologia ou corpo de textos sagrados.

Anarquismo é um movimento libidinal da humanidade contra qualquer forma de coerção, que remonta ao próprio surgimento da sociedade proprietária, do governo de classes e do Estado. Desse período em diante, pessoas oprimidas têm resistido a todas as formas que buscam aprisionar o desenvolvimento espontâneo de organização social.

O anarquismo surgiu no primeiro plano da arena social em períodos de grande transição de uma era histórica para outra. Os mundos antigo e feudal em declínio testemunharam o surgimento de movimentos de massa, em alguns casos de caráter extremamente dionisíaco, que exigiam o fim de todos os sistemas de autoridade, privilégio e coerção.

Movimentos anárquicos do passado fracassaram em grande parte porque a escassez material, uma consequência do baixo nível de tecnologia, prejudicou uma harmonização orgânica dos interesses humanos. Qualquer sociedade que conseguisse prometer um pouco mais materialmente do que a igualdade na pobreza, invariavelmente, gerava tendências profundas para restaurar um novo sistema de privilégios.

Na ausência de uma tecnologia que pudesse reduzir consideravelmente a jornada de trabalho, a necessidade de trabalhar tornava falhas as instituições sociais baseadas na auto-organização. Os girondinos [ala política moderada] da Revolução Francesa reconheceram astutamente que poderiam usar a jornada de trabalho contra a Paris revolucionária. Para excluir os elementos radicais da discussão, eles tentaram promulgar uma legislação que encerraria todas as reuniões em assembleias antes das dez da noite, hora em que os trabalhadores parisienses retornavam de seus empregos.

De fato, não foram apenas as técnicas manipuladoras e a traição das "organizações de vanguarda" que puseram fim às fases anárquicas das revoluções passadas, mas também os limites materiais de épocas passadas. As "massas" eram sempre obrigadas a retornar a uma vida de trabalho árduo e raramente tinham liberdade para estabelecer órgãos auto-organizados que pudessem durar depois da revolução.

Anarquistas como Bakunin e Kropotkin, no entanto, não estavam errados ao criticar Marx por sua ênfase no centralismo e suas noções elitistas de organização. O centralismo era absolutamente necessário para os avanços tecnológicos do passado? O estado-nação era indispensável para a expansão do comércio? O movimento de trabalhadores se beneficiou do surgimento de empresas econômicas altamente centralizadas e do Estado "indivisível"?

Temos a tendência de aceitar esses princípios do marxismo de forma muito acrítica, em grande parte porque o capitalismo se desenvolveu em uma arena política centralizada. Anarquistas do século passado alertaram que a abordagem centralista de Marx, na medida em que afetava os acontecimentos da época, fortaleceria de tal forma a burguesia e o aparato estatal que a derrubada do capitalismo seria extremamente difícil. O partido revolucionário, ao duplicar essas características centralistas e hierárquicas, reproduziria a hierarquia e o centralismo na sociedade pós-revolucionária.

Bakunin, Kropotkin e Malatesta não eram tão ingênuos a ponto de acreditar que o anarquismo pudesse ser estabelecido da noite para o dia. Ao creditar essa noção a Bakunin, Marx e Engels distorceram deliberadamente os pontos de vista do anarquista russo.

Anarquistas do século passado também não acreditavam que a abolição do Estado envolvia "depor as armas" imediatamente após a revolução, para usar as palavras obscurantistas de Marx, repetidas impensadamente por Lênin em O Estado e Revolução. De fato, muito do que se passa por marxismo em O Estado e Revolução é puro anarquismo - por exemplo, a substituição de corpos armados profissionais por milícias revolucionárias e a substituição de órgãos parlamentares por órgãos auto-organizados. O que é autenticamente marxista no panfleto de Lênin é a exigência de "centralismo estrito", a aceitação de uma "nova burocracia" e a identificação dos sovietes com um Estado.

Anarquistas do século passado estavam profundamente preocupados com a questão de conseguir a industrialização sem esmagar o espírito revolucionário das "massas" e sem criar novos obstáculos à emancipação. Eles temiam que a centralização tornasse mais forte a capacidade da burguesia de resistir à revolução e a infusão nos trabalhadores de um senso de obediência. Eles tentaram resgatar todas as formas comunais pré-capitalistas (como o mir russo e o pueblo espanhol) que poderiam fornecer um trampolim para uma sociedade livre, não apenas em um sentido estrutural, mas também espiritual.

Por isso, eles enfatizaram a necessidade de descentralização mesmo sob o capitalismo. Em contraste com os partidos marxistas, suas organizações davam atenção considerável ao que chamavam de educação integral — o desenvolvimento do ser humano como um todo — para neutralizar a influência degradante e banalizadora da sociedade burguesa.

Anarquistas tentaram viver de acordo com os valores do futuro, na medida em que isso fosse possível sob o capitalismo. Eles acreditavam na ação direta para promover a iniciativa das "massas", em preservar o espírito de revolta e incentivar a espontaneidade. Eles tentaram desenvolver organizações baseadas na ajuda mútua e na fraternidade, nas quais o controle seria exercido de baixo para cima, e não de cima para baixo.

Devemos fazer uma pausa aqui para examinar a natureza das formas de organização anarquistas em alguns detalhes, mesmo que seja apenas porque o assunto foi obscurecido por uma quantidade terrível de lixo. Anarquistas, ou pelo menos os anarco-comunistas, aceitam a necessidade de organização. Deveria ser tão absurdo ter que repetir esse ponto quanto discutir se Marx aceitava a necessidade de revolução social.

A verdadeira questão não é organização versus não organização, mas sim que tipo de organização os anarco-comunistas tentam estabelecer. O que os diferentes tipos de organizações anarco-comunistas têm em comum são os desenvolvimentos orgânicos vindos de baixo, e não os corpos criados de cima para baixo. São movimentos sociais, que combinam um estilo de vida revolucionário criativo com uma teoria revolucionária criativa, e não partidos políticos cujo modo de vida é indistinguível do ambiente burguês circundante e cuja ideologia é reduzida a rígidos "programas testados e aprovados".

Tanto quanto é humanamente possível, eles tentam refletir a sociedade liberada que buscam alcançar, e não duplicar servilmente o sistema predominante de hierarquia, classe e autoridade.

Eles são construídos em torno de grupos íntimos de irmãos e irmãs — grupos de afinidade — cuja capacidade de agir em comum se baseia na iniciativa, em convicções realizadas livremente e em um profundo envolvimento pessoal, e não em um aparato burocrático desenvolvido por uma vinculação domesticada e manipulada de cima para baixo por um punhado de líderes sabe-tudo.

Anarco-comunistas não negam a necessidade de coordenação entre os grupos, de disciplina, de planejamento meticuloso e de unidade na ação. Mas eles acreditam que a coordenação, a disciplina, o planejamento e a unidade na ação devem ser alcançados voluntariamente, por meio de uma autodisciplina nutrida pela convicção e pela compreensão, e não por coerção e uma obediência irracional e inquestionável a ordens vindas de cima.

Eles buscam alcançar a eficiência creditada ao centralismo por meio do voluntarismo e do discernimento, e não pelo estabelecimento de uma estrutura hierárquica "descentralizada".

Dependendo das necessidades ou circunstâncias, grupos de afinidade podem alcançar essa eficácia por meio de assembleias, comitês de ação e conferências locais, regionais ou nacionais. Mas eles se opõem vigorosamente ao estabelecimento de uma estrutura organizacional que se torne um fim em si mesma, de comitês que permaneçam depois que suas tarefas práticas tenham sido concluídas, de uma "liderança" que reduza a "pessoa revolucionária" a um robô sem mente.

Essas conclusões não são o resultado de impulsos individualistas inconsequentes; muito pelo contrário, elas emergem de um estudo minucioso das revoluções passadas, do impacto que os partidos centralizados tiveram no processo revolucionário e da natureza da mudança social em uma era de potencial abundância material.

Anarco-comunistas buscam preservar e ampliar a fase anárquica que abre todas as grandes revoluções sociais. Ainda mais do que os marxistas, eles reconhecem que as revoluções são produzidas por processos históricos profundos. Nenhum comitê central "cria" uma revolução social; na melhor das hipóteses, ele pode dar um golpe de estado, substituindo uma hierarquia por outra — ou pior, pode impedir um processo revolucionário, caso tenha ampla influência.

Um comitê central é um órgão para adquirir poder, para recriar o poder, para reunir para si o que as "massas" alcançaram por meio de seus próprios esforços revolucionários. É preciso estar cego para tudo o que aconteceu nos últimos dois séculos para não reconhecer esses fatos essenciais.

No passado, marxistas podiam fazer uma afirmação inteligível (embora inválida) sobre a necessidade de um partido centralizado, porque a fase anárquica da revolução foi anulada pela escassez material. Do ponto de vista econômico, as "massas" eram sempre obrigadas a retornar à vida cotidiana de trabalho. A revolução foi encerrada às dez horas, independentemente das intenções reacionárias dos girondinos de 1793; ela foi detida pelo baixo nível de tecnologia.

Hoje, até mesmo essa desculpa foi removida pelo desenvolvimento de tecnologias pós-escassez, principalmente nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. Chegou-se a um ponto em que as "massas" poderiam começar, quase da noite para o dia, a expandir drasticamente o "reino da liberdade" no sentido marxista — para adquirir o tempo de lazer necessário para atingir o mais alto grau de autogestão.

O que os eventos de maio e junho (de 1968) na França demonstraram foi a necessidade não de um partido do tipo bolchevique, mas de uma maior consciência entre as "massas". Paris demonstrou que é necessária uma organização para propagar ideias sistematicamente — e não apenas ideias, mas ideias que promovam o conceito de auto-organização. O que faltava às "massas" francesas não era um comitê central ou um Lênin para "organizá-las" ou "comandá-las", mas a convicção de que elas poderiam ter operado as fábricas em vez de simplesmente ocupá-las.

É digno de nota que nenhum partido do tipo bolchevique na França aumentou a exigência por auto-organização. Essa demanda foi levantada apenas por anarquistas e situacionistas.

Há necessidade de uma organização revolucionária, mas seu propósito deve ser sempre mantido em mente. Sua primeira tarefa é a divulgação, "explicar pacientemente", como disse Lênin. Em uma situação revolucionária, a organização revolucionária apresenta as demandas mais avançadas: ela está preparada para, a cada virada de eventos, formular — da maneira mais concreta — a tarefa imediata que deve ser executada para avançar o processo revolucionário. Ela fornece os elementos mais ousados na ação e nos órgãos de tomada de decisão da revolução.

De que forma, então, grupos anarco-comunistas diferem de partidos do tipo bolchevique? Certamente não em questões como a necessidade de organização, planejamento, coordenação ou divulgação em todas as suas formas ou na necessidade de um programa social.

Fundamentalmente, eles diferem do partido do tipo bolchevique em sua crença de que pessoas revolucionárias genuínas devem funcionar dentro da estrutura das formas criadas pela revolução, não dentro das formas criadas pelo partido.

Isso significa que seu compromisso é com os órgãos revolucionários auto-organizados, não com a organização revolucionária; com as formas sociais, não com as formas políticas. Anarco-comunistas buscam persuadir os comitês de fábrica, assembleias ou sovietes a se transformarem em órgãos genuínos de auto-organização popular, e não dominá-los, manipulá-los ou atrelá-los a um partido político sabe-tudo.

Anarco-comunistas não buscam criar uma estrutura estatal sobre esses órgãos revolucionários populares. Pelo contrário, buscam dissolver todas as formas organizacionais desenvolvidas no período pré-revolucionário (incluindo as suas próprias) nesses órgãos revolucionários genuínos.

Essas diferenças são decisivas. Apesar de sua retórica e slogans, bolcheviques russos nunca acreditaram nos sovietes; eles os consideravam instrumentos do partido bolchevique (…) Em 1921, os sovietes estavam praticamente mortos, e todas as decisões eram tomadas pelo Comitê Central Bolchevique e pelo Escritório Político.

Anarco-comunistas não só procuram evitar que os partidos marxistas repitam essa situação, como também desejam evitar que sua própria organização desempenhe um papel semelhante. Dessa forma, eles tentam evitar que a burocracia, a hierarquia e as elites surjam em seu meio.

Não menos importante, eles tentam se refazer, extirpar de suas próprias personalidades os traços autoritários e as propensões elitistas que são assimiladas na sociedade hierárquica quase desde o nascimento. A preocupação do movimento anarquista com o estilo de vida é uma preocupação não apenas com sua própria integridade, mas com a da própria revolução.

Em meio a todas as confusas correntes ideológicas cruzadas de nosso tempo, uma questão deve permanecer sempre em primeiro plano.

Para que diabos estamos tentando fazer uma revolução?

Para recriar a hierarquia, posicionando um sonho obscuro de liberdade futura para a humanidade contemplar? Para promover mais avanços tecnológicos? Para criar uma abundância de bens ainda maior do que a existente hoje? Para "se vingar" da burguesia? (…) Para levar ao poder o Partido Comunista ou o Partido Socialista dos Trabalhadores? Para emancipar abstrações como "o proletariado", "o povo", "a história", "a sociedade"?

Ou será que é para finalmente dissolver a hierarquia, o domínio de classe e a coerção — para possibilitar que cada indivíduo obtenha o controle de sua vida cotidiana? Será que é para tornar cada momento tão maravilhoso quanto poderia ser e o tempo de vida de cada indivíduo uma experiência totalmente gratificante? (…)

Não precisamos discutir a questão sem sentido sobre o desenvolvimento individual poder estar separado do desenvolvimento social e comunitário; obviamente os dois andam juntos. A base para um ser humano completo é uma sociedade completa; a base para um ser humano livre é uma sociedade livre.

Deixando essas questões de lado, ainda nos deparamos com a questão levantada por Marx em 1850: quando começaremos a inspirar nossa poesia no futuro em vez do passado? Os mortos devem ter permissão para enterrar os mortos.

O marxismo está morto porque foi enraizado em uma era de escassez material, limitada em suas possibilidades pela carência material. A mensagem social mais importante do marxismo é que a liberdade tem pré-condições materiais — precisamos sobreviver para viver.

Com o desenvolvimento de uma tecnologia que não poderia ter sido concebida pela mais louca ficção científica da época de Marx, a possibilidade de uma sociedade pós-escassez agora está diante de nós. Todas as instituições da sociedade da propriedade — governo de classe, hierarquia, família patriarcal, burocracia, cidade, estado — se esgotaram.

Hoje, a descentralização não é apenas desejável como um meio de restaurar a dimensão humana, ela é necessária para recriar uma ecologia viável, para preservar e proteger a vida neste planeta dos poluentes destrutivos e da erosão do solo, para manter uma atmosfera respirável e o equilíbrio da natureza.