Em O Decênio Decisivo (2023), o historiador Luiz Marques demonstra porque a civilização humana tem até 2030 para reverter radicalmente sua direção autodestrutiva, no contexto da emergência climática e da extinção em massa de espécies. Sem isso, a escalada exponencial do desastre é certa. Também lista as medidas sociopolítico-econômicas necessárias.
É um trabalho rigoroso e preciso de compilação e síntese das melhores pesquisas no mundo, não é uma tese do autor.
Considerando a enormidade da tarefa, o resultado impressiona, ficando em pé de igualdade com os melhores livros de autores do norte global. Também intimida, devido ao inevitável despejo de listas, gráficos e citações de relatórios e cientistas. Apesar de o público-alvo não ser a academia, acabou sendo uma leitura mais acadêmica do que esperava, mais do que sua obra anterior Capitalismo e Colapso Ambiental (2018), focada em demonstrar como a raiz do colapso atual é o dominante sistema de extração de lucros.
Mesmo não sendo leitura fácil, é um livro essencial para quem consegue deixar de ignorar essa ameaça à civilização.
Ignorar, mesmo suspeitando que não há nada mais urgente, é compreensível até. Porque mergulhar fundo nisso pode ser muito deprimente. Pessoalmente, não vejo sinais de que a crise será revertida. Na verdade, eles apontam para um agravamento sistemático1. E isso em meio a ameaças interligadas, como a ascensão da extrema-direita.
Seria possível que — até 2030 — oligarcas, corporações e governos coloquem a mão na cabeça e se deem conta de que precisam parar, mudar tudo e recuar? Dentro do reino das possibilidades, sim, não seria fisicamente impossível. Mas é absolutamente improvável, com chances próximas de zero.
O mais provável é que o colapso continue a se multiplicar exponencialmente, até um ponto limite, em que não fará mais sentido continuar destruindo tudo, ou porque a maior parte já estará arruinada ou porque simplesmente não haverá mais infraestrutura de civilização para isso continuar.
Isso sim é algo 100% radical. Aquilo que costuma ser chamado de “radicalismo” ativista me parece mais bom senso.
Um trecho do livro:
- Era do colapso socioambientalEra do colapso socioambiental
Trecho do livro O Decênio Decisivo (2023), de Luiz Marques: O título do relatório de 2019 do Institute for Public Policy Research (IPPR), de Londres, chama corajosamente nossa época pelo seu nome: “a idade do colapso ambiental” (the age of…
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Por exemplo: “Brasil vai explorar petróleo até ter nível de país desenvolvido, diz ministro de Energia”. Então chegará um dia em que eles dirão “Pronto, chegamos! Agora vamos parar de explorar”?!! Duvido, mesmo com tudo em volta queimando. Isso, na verdade, significa: “Vamos continuar explorando até a última gota, de vida.” ↩