Ficção na era da extinção

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Death by Landscape (2022) reúne ensaios da autora e romancista Elvia Wilk, de Nova York. A maioria é sobre um de meus temas favoritos na ficção especulativa, a fusão — metafórica ou literal — de pessoas com o ambiente. A descrição na contracapa acrescenta: “um livro de ‘fan nonfiction’ sobre viver e escrever na era da extinção”.

Tem dois ou três ensaios no final, de um total de 13, que pulei — por exemplo, um sobre realidade virtual e uma crônica do isolamento durante a Covid. Mas me deliciei com o restante.

O título do livro (“morte por paisagem“) é o mesmo de um conto de Margaret Atwood, famosa pela série O Conto da Aia. Nesse conto homônimo, uma menina some inexplicavelmente em um bosque florestal. Ao longo dos anos, sua melhor amiga fica cada vez mais assombrada por sinais de que a desaparecida se fundiu de modo extraordinário com a paisagem da floresta. Esse é o tema de muitos dos ensaios. A interdependência entre humanos e a natureza é um fato primordial nada novo, mas bastante negligenciado. Nas últimas décadas, o tema vem ficando cada vez mais relevante no imaginário cultural, devido à era de colapso ambiental que adentramos. Como integramos inseparavelmente a natureza, a catástrofe também é o grande colapso humano.

A presença desse tema na vanguarda da ficção especulativa é um sinal dessa crucial transição nas histórias que contamos1.

Os artigos alternam entre crítica literária, de cinema, reminiscências autobiográficas e até análise hagiográfica (hagiografia é a biografia de místicos). Gostei especialmente porque muitos dos livros e filmes analisados — a maioria de ficção científica — estão entre meus favoritos de todos os tempos.

Adoro o romance Aniquilação, de Jeff Vandermeer2, e achei brilhante o ensaio da autora sobre a obra. A conexão entre experiências místicas e a ficção científica é que as visões daquilo que costumava ser chamado de Deus, espírito etc, nada mais são que revelações do desconhecido, do mistério profundo da realidade. Uma das especialidades da autora é a vida de mulheres visionárias medievais. Por exemplo, a inglesa Juliana de Norwich, a primeira mulher creditada como autora de um livro: Revelações sobre o Amor Divino, do século 14. Ela se enclausurou em uma cela e teve pleno contato com uma realidade extraordinária que identificou como sendo as divindades cristãs (também tenho esse livro, que considero literatura altamente psicodélica).

O vocabulário cristão era a única coisa que pessoas imersas nesse tipo de cultura tinham para descrever “experiências de primeiro contato”3, como diz a autora. Essencialmente, não é um contato tão diferente do fenômeno da história de Aniquilação, ou lendas do “paganismo” natural.

Elvia Wilk também escreveu um elogiado romance distópico sci-fi (que não li): Oval (2019).


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    . Em sua newsletter, o autor também escreveu sobre isso

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  3. Lembrei de uma observação curiosa de Orson Scott Card. Ele disse que se a Bíblia fosse simplesmente uma obra de literatura, e não a escritura máxima de uma mega-instituição religiosa, seria ficção científica das boas, uma grandiosa história de primeiro contato.