A Tormenta de Espadas — Crônicas de Gelo e Fogo 3

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Capa do livro "A Tormenta de Espadas"

A Tormenta de Espadas (2000) é o terceiro volume da série Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, em que a série Game of Thrones (2011-19) se baseia.

A história original é sim melhor que a da tela. Mas também acho a adaptação da HBO imperdível. Já mencionei porque adoro:

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Para quem é fã, vale a pena ler os livros após ver a série porque, além de os rostos e cenários surgirem espontaneamente na mente, a história se aprofunda, inclusive com elementos cruciais inéditos.

Apesar de o enredo básico ser o mesmo, os livros têm uma narrativa bastante diferente, em um formato para o qual antes não tinha muita paciência. Com descrições minuciosas, cada volume acaba somando em média 1000 páginas (na versão em inglês). Não há aquele ritmo videoclípico que se popularizou entre bestsellers. A imersão é lenta em direção a uma profundidade gigantesca.

Talvez esse seja um dos motivos por que os livros conquistaram tanta gente mesmo antes da adaptação. Li uma resenha em que essa série literária estava acabando com um casamento. A esposa reclamava que o parceiro parecia cada vez mais distante, meio que em outro mundo. Sinto esse efeito também.

Depois de uma sessão mais longa de leitura, a saga preenche tudo, a ponto de outras preocupações reduzirem. É o tipo perfeito de escapismo, no bom sentido. Nunca senti isso com outras séries.

Costumo ler pelo menos uns três livros simultaneamente. Mas A Tormenta de Espadas me fazia pausar os outros por várias semanas, demandando dedicação exclusiva.

Entre os três livros que já li, esse foi o que mais me pegou. Não que seja diferente, todos basicamente formam um único livro imenso. Talvez o motivo seja porque já faz um bom tempo que assisti a série, e agora a história escrita definitivamente tomou vida própria.

Diversos momentos ainda evocam comparações, em que a adaptação para a tela perde. Há reviravoltas e revelações cuja sentimento de exclamação efusiva fica — coisa exclusiva dos livros, que na tela não ficou bem resolvida.

Nesse volume, outros aspectos que ficaram de fora na TV e que adorei são os seguintes.

Aparece bem claro o conflito sociopolítico entre os "selvagens bárbaros", que são praticamente um povo originário anarquista, e a civilização autoritária dominante, autodestrutiva e xenófoba.

Também há destaque para um oculto pano de fundo maior, teológico. O "gelo e fogo" do título se referem a um embate cíclico entre bem e mal, entre o "Deus da Luz" R'hllor e as geladas trevas. Bem e mal podem soar batidos, mas esse é um dos mais envolventes retratos que já vi dessa dualidade, também em conflito dentro das personagens. No quadro maior, reis caem ou ascendem, dragões ressurgem, vilões se redimem, pessoas heroicas degeneram, guerras são travadas etc, como sendo aspectos da interação dessas forças.

No final, me resignei a ler os livros restantes quase lamentando, pois sequestram demais coração e mente.